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Foto do escritorElenita Sales

Terra de quem?

Atualizado: 29 de jan. de 2020

Durante o segundo semestre de 2019, fiz uma disciplina do meu curso chamada Saneamento Ambiental em Meio Rural e um dos doutorandos, que ministravam a disciplina junto com os professores, deu como trabalho escrever um texto sobre o seguinte tema "A importância das terras indígenas para o meio ambiente e sua relação com o agronegócio" e gostaria de compartilhar com vocês minhas reflexões sobre o tema. Mas antes eu também não posso deixar de lembrar o que é lugar de fala!

"O conceito representa a busca pelo fim da mediação: a pessoa que sofre preconceito fala por si, como protagonista da própria luta e movimento (NEXO, 2017)."

As coisas que escrevi são baseada no que li em reportagens e em videos de indígenas sobre o tema, as fontes se encontram no final do post (como sempre). Achei massa compartilhar como forma de reflexão, mas estou sempre disposta a conversar mais sobre, ninguém sabe tudo sobre algo, ainda mais sobre aquilo que não vive.


Terra de quem?

A importância das terras indígenas para o meio ambiente e sua relação com o agronegócio.


A data é 22 de abril de 1500, início da invasão do que hoje chamamos de Brasil. De um lado aproximadamente 3 milhões de indígenas, mais de 1 mil etnias, do outro 1.200 portugueses. Segundo o censo 2010, vivem 817.963 indígenas no Brasil e o número segue… caindo.


República Federativa do Brasil, um país conhecido por sua rica diversidade natural, conservada por seus nativos até iniciar o processo de colonização. Antes da colonização, os recursos naturais eram utilizados pelos nativos apenas como forma de sobrevivência. A relação do povo indígena com a natureza sempre foi caracterizada por seu respeito e conexão, de modo cultural ou espiritual. A chegada do homem branco causou um grande conflito para as etnias que tiveram contato com os mesmo, aqueles que não obedeciam eram mortos ou escravizados, aqueles que fugiram tiveram que permanecer isolados. Os colonizadores tinham como foco a exploração, seja ela humana ou ambiental, o que era, e ainda é, completamente o oposto dos indígenas.


A partir do processo de invasão vários povos chegaram ao país, alguns de forma forçada, como os negros, outros para ajudar no processo de colonização. Essa junção de fatores culminaram na enorme crise socioambiental que o país está passando atualmente, onde o capital é mais importante do que a vida daqueles que procuram preservar a natureza e, consequentemente, preservando a todos.


No cenário atual, em teoria, as áreas que teriam mais chances de serem preservadas de forma adequada são as reservas ambientais e territórios indígenas, por sua relação ancestral de respeito aos recursos, mas não é o que acontece na prática.


A indústria do agronegócio ganha mais força a cada ano e, como sua maioria esmagadora possui o foco no lucro, o anseio por mais terras foi atrelado com a onda conservadora, botando em jogo até os mínimos direitos adquiridos durante séculos de luta do povo indígena.

“Este é o caso do povo Karipuna, em Rondônia. Quase extintos na época dos primeiros contatos com a sociedade não indígena, nos anos de 1970, os Karipuna não podem caminhar livremente pelo seu território, homologado em 1998. Além do aprofundamento da invasão da Terra Indígena Karipuna desde 2015 para o roubo de madeira, a grilagem e o loteamento são outros crimes que vêm sendo, insistentemente, denunciados pelo povo aos órgãos do Estado brasileiro e até mesmo na Organização das Nações Unidas (ONU).” CIMI, 2018.

Além disso, o processo de colonização para alguns foi tão intenso que fez com que índios vissem o agronegócio como uma necessidade de sobrevivência no meio capitalista, passando a utilizar sua terra ancestral para o plantio de monocultura. Como é o caso da aldeia Paresi, que já semeou 10 mil hectares de soja, onde o Ibama ainda constatou o plantio de milho transgênico na reserva, o que é proibido por lei.

“É a saída contra a discriminação, que tacha os índios de vagabundos e preguiçosos. Não adianta o governo gastar milhões de reais com remédios para a população indígena. O que não deixa o índio adoecer é comida, educação, uma moradia digna, saneamento básico. Não dá para tratar o índio como um animal dentro de um cercado.[...]” Arnaldo, “Branco”, um dos líderes da aldeia Peresi (2019).

É necessário fazer para além da demarcação territorial, é preciso garantir com que seus direitos sejam cumpridos e sua civilização respeitada, não adianta assinar um papel para garantir o poder sobre as terras se nada é feito quando os mesmo são atacados/assassinados, quando suas terras são invadidas e desmatadas.


O assunto é amplo e muito precisa ser debatido, as vozes daqueles que são diretamente afetados por isso precisão ser ouvidas. Não dá mais para fingir que nada está acontecendo, o clássico “isso não tem nada a ver comigo” não pode ser mais usado. A luta contra o agronegócio é uma luta de todos, não apenas dos nativos do nosso país. O agro não é pop, não é tudo, ele é LUTO.


Fontes


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